terça-feira, 23 de agosto de 2022

Gata Mansa

Viajei para a casa de praia num sábado de manhã, isso porque fazia frio e não havia nada de interessante a acontecer na cidade grande. Na bagagem, além de roupas de manga comprida, calças de elanca e meias quentinhas, levei minha gata, já tão acostumada a passear, a ser solta dentro da enorme casa e a se embrenhar pela mini reserva florestal que lá existe. Foram dias lindos, porém gélidos; nada que bons cobertores de lã e um belo poncho por cima da roupa não pudessem dar uma sacodida de imediato às baixas temperaturas do ar. Fotos e vídeos com a bichana não puderam faltar. E comida a pampa também, pois quando não se tem clima de praia e sol para curtir o dia, só mesmo o que resta é se afogar no vinho, se entorpecer de leve nas doses e se empanturrar bastante, cair de boca na comida, seja ela churrasco na brasa ou um pote de biscoitos. E a gata sempre ali, pertinho, rondando, comendo e dormindo no sofá junto às almofadas. A danada é mansa, não é de enfeites, mas desta vez investi numa bela coleira de pescoço aveludada, numa cor puxada para o roxo e toda trabalhada com tachinhas douradas. Uma pena ter achado que a felina, aos quinze anos não poderia estar caduca, mas talvez já andasse um pouquinho assim, pois não demorou muito, dois dias depois do descanso e aconchego do lar, ela sumiu no meio do mato, ao cair da tarde. A procura foi intensa, só faltou depois de muito rondar pela área e de alertar aos vizinhos sobre seu desaparecimento, ficar por lá na sentinela, esperando ela aparecer ou acionar os bombeiros; haja estardalhaço! Ou ela foi capturada por algum ser sem-graça que a viu dando sopa pela rua, pois em alguns momentos o portão do condomínio ficou aberto, ou talvez a provável existência de alguma cobra pela redondeza seja uma pequena possibilidade... O fato é que eu retornei ao Rio de Janeiro, minha residência, sem minha gatinha. E cá estou, sentindo falta da minha miúda, minha preciosa, meu pedacinho de algodão doce, minha lambisgoia tão querida e amada. Mia, vê se retorna pro seu lar, ou se não, fique bem aonde quer que esteja. Eu realmente sinto a sua falta, porque a casa aqui onde moro era mais sua do que minha. Os gatos são os verdadeiros donos de nossos tetos. Os nossos gatos são um pedacinho da gente. Aquela parte sensível, linda e inocente, aqueles olhos claros, curiosos e que piscam, pra nos revelar o quanto somos carentes. Carentes de mansidão.